Por Rafael Bitencourt & Claudia Assencio
Observatório Cidadão de Piracicaba
Debate “Mobilidade para Todos” aconteceu na Câmara de Vereadores de Piracicaba
Frente ao constante crescimento da frota de carros e motocicletas em Piracicaba, em detrimento ao transporte público, cuja tarifa vem passando por constantes altas e mediante análise de outros municípios de porte semelhante, o diagnóstico do professor da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), Dirceu Rother Junior, é enfático.
“As ações das cidades e a nossa mobilidade são totalmente baseadas no automóvel, do qual somos totalmente dependentes. O automóvel, hoje, é a nossa prótese, não conseguimos ir a lugar nenhum sem ele”, afirmou Rother Junior, durante o debate “Mobilidade Para Todos”, realizado na Câmara de Vereadores de Piracicaba no dia 20 de setembro de 2018.
A atividade compôs a série de ações da Semana Municipal de Luta da Pessoa com Deficiência e reuniu representantes do Comdef (Conselho Municipal de Proteção, Direitos e Desenvolvimento da Pessoa com Deficiência), Projeto MobCidades, Observatório Cidadão, Semuttran (Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes), Semob (Secretaria Municipal de Obras) e da área acadêmica.
Para Dirceu Rother Junior, “automóvel é a nossa prótese”
O representante do Observatório Cidadão e do projeto MobCidades Bruno Vello ressaltou a importância da implementação de políticas públicas quanto ao transporte público. “A gente acredita que transporte público é uma política pública, é uma escolha do Poder Público quanto a um meio de transporte que seja mais sustentável. Feita essa escolha, com políticas públicas de incentivo ao uso, tornando o ônibus mais atrativo às pessoas, ele passa a ser mais usado. O que a gente cobra é que a prefeitura se comprometa com esse resultado”, disse.
Levantamento feito pela Semuttran, a pedido do Portal G1, divulgado no último domingo (23/09), mostra que Piracicaba tem novos 8.578 automóveis em circulação na cidade entre julho de 2017 e o mesmo período de 2018, quando o município atingiu a marca de 288.643 carros, caminhonetes e motos, que integram a categoria de veículos leves. No sétimo mês do ano passado, eram 280 mil unidades.
Já a frota de ônibus do transporte público é, atualmente, de 230 veículos, de acordo com o Poder Público, o que representa uma queda constante nos últimos cinco anos. Ao mesmo tempo, o valor da tarifa subiu no mesmo período e o número de passageiros transportados caiu, como mostra reportagem publicada em agosto pelo Observatório Cidadão e que pode ser conferida por meio do link: https://bit.ly/2OMkJWq
Lei de Mobilidade Urbana
Rother Junior abordou a Lei 12.587/12, conhecida como Lei de Mobilidade Urbana, que determina aos municípios a tarefa de planejar e executar a Política de Mobilidade Urbana. O planejamento urbano, já estabelecido como diretriz pelo Estatuto da Cidade, é necessário ao crescimento sustentável das cidades brasileiras.
“A cidade está dispersa. Há loteamentos aprovados em regiões mais distantes do centro, onde mora a população mais pobre. A cidade é planejada pelo capital, pela oferta de terra e pelo seu valor. Na periferia é onde está a maior parte das pessoas. A propriedade urbana tem que cumprir o seu papel social, mas ela cumpre apenas um valor de mercado. A cidade é para poucos”, defende.
Geraldo Moura reconheceu o alto preço da tarifa e pediu “suporte” à população
O representante da Semuttran, Geraldo Moura, afirma que “não chegaremos a uma situação melhor se não pensarmos a cidade como um todo”. Para ele, dizer que as cidades não foram planejadas é equivocado, sendo o caso de São Paulo, município planejado na década de 1930, emblemático.
“A cidade é feita para pessoas que têm dinheiro, que não têm restrição de mobilidade e que não têm deficiência. Não é feita para idosos e, arrisco dizer, não é feita para mulheres em alguns locais, por conta do risco. Isso vale para São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, Piracicaba”, diz. “Muitas vezes a responsabilidade não é só do Poder Público, todos nós encampamos essa responsabilidade, porque acabamos concordando com isso, achamos normal a cidade ter sido feita para carros”.
O representante do Poder Público reconhece o alto preço da tarifa e pede “suporte” à população. “Nós sabemos que a tarifa de ônibus está ficando cara, já falamos isso. Mas isso não acontece porque a gente quer e, sim, porque tem um preço para o Poder Público. O que a gente vem pedir é suporte, para deixar a gente fazer aquilo que é melhor para a cidade”, completa.
Rogério Mendes Campos abordou a fiscalização das calçadas pela Semob
Fiscalização em calçadas
Rogério Mendes Campos, da Semob, trouxe à tona os números referentes à fiscalização das calçadas. “De 2013 a 2017 foram feitas cerca de 4 mil notificações a proprietários por calçadas mal cuidadas. Só em 2014 foram 1.395 notificações, porque fizemos um mutirão no centro da cidade. Em 2018, até o mês de agosto, foram, aproximadamente, 300 notificações”, disse.
Acessibilidade nos ônibus
O representante do Comdef Francisco Cerignoni afirma que a frota de ônibus em Piracicaba precisa de melhorias quanto à acessibilidade. “Há dois problemas: um é o fato de o motorista ter que deixar o ônibus parado, com o motor ligado, deixar o seu posto de comando para poder operar o elevador (para acesso aos cadeirantes). Ele fica com duas preocupações, uma é de alguém ir embora com o ônibus e, outra, é a reclamação dos passageiros”, diz.
Para Francisco Cerignoni, ônibus precisam de melhorias quanto à acessibilidade
“Outra questão é que o elevador fica no degrau do ônibus, que é sempre ocupado pelos passageiros, principalmente quando o ônibus está lotado. E como sempre está lotado, dificulta o funcionamento”, opina Cerignoni.
Propostas para a Mobilidade Urbana
Durante o debate, Bruno Vello apresentou as “10 Propostas Prioritárias para o Plano de Mobilidade Urbana de Piracicaba”, documento desenvolvido pelo Observatório Cidadão, em parceria com as entidades participantes do Projeto MobCidades: o Comdef, as Promotoras Públicas Populares (PLPs), a Associação de Moradores do Distrito de Tupi e o Observatório Social de Piracicaba (OSP).
O documento completo pode ser acessado no site do Observatório Cidadão e reúne desafios relacionados à acessibilidade, questões de gênero, transporte ativo (pedestres e ciclistas) e transporte coletivo.
Bruno Vello apresentou as propostas para o Plano de Mobilidade Urbana
As 10 propostas são: Acessibilidade nos espaços públicos, comissão de acessibilidade, paradas de ônibus em período noturno, campanha contra o assédio, fiscalização das calçadas, construção de ciclovias e ciclofaixas, incentivo ao transporte coletivo, custeio público dos benefícios da tarifa e reestruturação do Conselho de Mobilidade.
“São questões que estão diretamente conectadas ao objetivo de melhorias na cidade e à conquista de um município mais sustentável e mais acessível a todos. Se mantivermos a trajetória atual, fica difícil imaginar que estaremos numa cidade melhor daqui a 10 anos”, completa Bruno Vello.
SERVIÇO
O documento completo com todas as propostas para o Plano de Mobilidade de Piracicaba pode ser acessado em https://goo.gl/CVMQmo ou www.observatoriopiracicaba.org.br
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