Por Alberto Kirilauskas*
Um dos indicadores de mobilidade do Observatório (Clique aqui para acessá-lo) aponta que a frota de automóveis da cidade aumentou de 98 mil em 2004 para mais de 167 mil em 2014. Representa um aumento de 70%, enquanto a população aumentou 11,5% no mesmo período. Se em 2004 tínhamos 3,4 habitantes por automóvel, hoje, dez anos depois, temos 2,3. Para se ter uma referência a cidade de São Paulo que apresenta um trânsito caótico, principalmente nos horários de pico, possui cerca de 2,1 habitantes por automóvel[i].
Dentro da dimensão da mobilidade a questão específica do carro precisa ser tratada com atenção, pois as generalizações podem não refletir a realidade e permitir críticas construtivas. Uma dessas generalizações é que o trânsito deve-se exclusivamente a popularização do automóvel: quem não tinha passou a ter. Nesse caso frase dita pelo arquiteto e urbanista Jorge Wilheim[ii]: “Adoramos o nosso automóvel e detestamos o automóvel dos outros.” se encaixa com precisão, o problema é o outro e não todos nós: sociedade civil, poder público e meio empresarial. Essa generalização encobre o uso que se faz ou pode fazer do carro: ter um carro não quer dizer, obrigatoriamente, que se deve utilizá-lo rotineiramente. Nos trajetos cotidianos, com a mesma origem e destino, o seu uso é inadequado, pois existem outras diferentes formas possíveis de se realizar esses deslocamentos, cabendo ao poder público garantir as condições adequadas para isso. Porém, o carro pode ser utilizado como exceção, em casos específicos. Dessa forma, o indicador de aumento da frota nos abre um espaço fecundo para reflexões e ações, cabendo um olhar atento para identificar as especificidades da questão.
Usar o automóvel envolve ao mesmo tempo usar o espaço público, de modo ser necessário planeja-lo para que todos, sem exceções, os cidadãos consigam chegar ao seu destino da maneira mais adequada possível. Para tanto é fundamental observar que as pessoas, por diferentes motivos, realizam seus deslocamentos através de ônibus, bicicletas, a pé, motocicletas e também automóveis, ou seja, o espaço público das vias é compartilhado e precisa ser pensado para todos os seus usuários.
Mesmo com as ponderações necessárias pode-se dizer que atualmente é nítida a ênfase dada ao carro apesar de muitas vezes se ouvir o discurso a favor do transporte coletivo e da mobilidade por outros meios. Portanto, como apontado por Wilheim na mesma entrevista em que disse a frase supracitada, é necessário casar o discurso com a prática para que exista de fato um planejamento e execução com vistas a melhorar a mobilidade urbana.
Encerro com um trecho da música Rua de passagem – Trânsito do Lenine e Arnaldo Antunes:
“Já buzinou, espere não insista
Desencoste o seu do meu metal
Devagar pra contemplar a vista
Menos peso no pé do pedal
Não se deve atropelar cachorro
Nem qualquer outro animal
Todo mundo tem direito à vida
E todo mundo tem direito igual”
-----
A questão da mobilidade urbana envolve outras dimensões além do uso do automóvel. Para saber mais clique aqui e acesse também o Boletim de Mobilidade do Observatório Cidadão de Piracicaba.
[i] Os dados da cidade de São Paulo devem ser observados relacionado a sua presença central na Região Metropolitana da capital, pois há veículos de outras cidades que circulam constantemente dentro da cidade.
[ii] A entrevista em questão foi dada ao programa Roda Viva da Tv Cultura em 2013.
-----
Alberto Kirilauskas é gestor ambiental e mestrando em Ecologia Aplicada pela ESALQ/USP e voluntário do Observatório Cidadão
Queremos estar próximos à você! Para receber nossas publicações e ficar por dentro das ações e propostas do Observatório para melhorar a transparência pública e mobilidade urbana de Piracicaba, preencha os dados ao lado.