Transporte público: Comportamento de motoristas agrada passageiros; insegurança e lotação são motivos de reprovação

Pontos positivos e negativos: transporte público de Piracicaba

Publicado em 20/11/2018 - 12:00
Transporte público: Comportamento de motoristas agrada passageiros; insegurança e lotação são motivos de reprovação

Por Claudia Assencio & Rafael Bitencourt

Observatório Cidadão de Piracicaba


 Gráfico

Passageiros do transporte coletivo aprovam conduta dos motoristas. 

 

A conduta dos motoristas de ônibus de Piracicaba é o principal motivo de satisfação dos usuários do transporte público na cidade. É o que mostra um estudo realizado pelo Observatório Cidadão de Piracicaba, em parceria com o Laboratório de Planejamento Municipal do Instituto de Geociências e Ciências Exatas e estudantes de graduação em geografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que analisou as respostas de passageiros do sistema em pesquisa de avaliação do serviço.

Foram aplicados questionários a 319 pessoas, em quatro diferentes pontos do município entre abril e maio de 2018. Cada questionário apresentou 17 perguntas, que incluíram informações socioeconômicas, condição de deslocamento via transporte coletivo e satisfação em relação ao transporte público.

No total, 65,2% dos entrevistados disseram estar satisfeitos com o respeito dos motoristas às paradas. A forma de dirigir dos condutores agradou 63,7% das pessoas consultadas. Os quesitos atendimento dos profissionais e tempo de deslocamento até os pontos receberam índice de satisfação de 61,7% e 61,5% respectivamente.

Aparecida Lopes de Freitas, de 74 anos, usa o transporte coletivo de Piracicaba duas vezes por semana para ir do bairro Pauliceia ao Centro. A passageira afirmou que os motoristas de ônibus são sempre gentis, prestativos e que a ajudam na hora de usar a plataforma elevatória disponível para pessoas com restrição de mobilidade. “Tenho uma prótese, passei por cirurgia na coluna, sou aposentada por invalidez e não posso levantar a perna”, disse. 

Aparecida Lopes de Freitas falando
Para Aparecida Lopes de Freitas motoristas são gentis e prestativos

“Aos motoristas dos ônibus, só tenho a agradecê-los por toda atenção”, ressalta. A aposentada reforça, entretanto, que o sistema elevatório para pessoas com deficiência apresenta falhas. “Já precisei esperar por três horas dentro do ônibus que havia quebrado”, disse. Ela sugere a existência de uma equipe de suporte em caso de problemas técnicos.

A Prefeitura foi consultada pela reportagem e, sobre a conduta dos motoristas, afirmou que, com a nova concessão, os treinamentos com os profissionais foram intensificados, “resultando na melhoria do atendimento ao usuário do transporte público”, ressaltou a administração municipal.

TARIFA E LOTAÇÃO - A qualidade dos aspectos operacionais do serviço, por outro lado, é algo apontado como ruim. Do total de entrevistas pelo estudo do Observatório, 76,9% dos passageiros se mostram insatisfeitos com a lotação existente nos ônibus. O preço da passagem é motivo de reprovação para 70,9% dos transportados. Vale ressaltar que a pesquisa foi realizada antes do aumento do valor da tarifa decretado pela Prefeitura em julho.

Outros itens negativos são as insatisfações quanto ao conforto nos veículos (48,9%), conforto dos pontos (45,8%) e quantidade de linhas (43,8%). São dignos de menção, ainda, a insatisfação dos passageiros quanto ao conforto nos terminais (40,8%), à limpeza dos veículos (40%) e à conservação dos veículos (39,3%).

Maria Dajuda, de 55 anos, é passageira assídua do transporte público de Piracicaba. “Tomo pelo menos dois ônibus todos os dias, principalmente de segunda a sábado. Ela aponta a lotação dos coletivos como uns dos principais problemas do sistema. “À tarde, os ônibus vão muito cheios. “Nem os idosos conseguem se sentar”, comenta. A limpeza nos veículos e nos terminais também deixa a desejar, segundo a passageira. 

Maria Dajuda e Gabriela da Silva Amaral sentadas no terminal

Maria Dajuda e Gabriela da Silva Amaral usam ônibus com frequência 

A superlotação também foi mencionada pelo pedreiro Alexandre Rodrigo Custódio. Ele que é usuário frequente do transporte coletivo, contou o número de passageiros que seguiram o trajeto de pé no ônibus, em linha do Terminal São Jorge. “Foram 62 pessoas apenas agora, mas todos os dias é a mesma coisa”, ressalta. “Tudo é muito ruim no serviço, não tem nada de bom”, criticou.

SEGURANÇA - No estudo do Observatório, 38,3% dos usuários do transporte coletivo apontaram insatisfação quanto à segurança dentro dos ônibus. Já 24,1% dos passageiros consultados se disseram nem satisfeitos nem insatisfeitos, totalizando um índice de 62,4% que não indicaram satisfação quanto ao item, que se refere a roubos, assaltos, agressões e assédio.

A auxiliar de faturamento Gabriela da Silva Amaral, de 22 anos, tem carro, mas usa o transporte coletivo de Piracicaba pelo menos uma vez por semana, no trajeto entre o Jaraguá e o Bairro Alto. A jovem não descarta o uso do veículo particular devido à praticidade que ele oferece, afirma. “O carro nos dá mais comodidade”, diz. Ela sugere melhorar a distribuição das linhas de ônibus.

Gabriela, assim como os demais passageiros entrevistados, elogiou o comportamento dos motoristas, bem como a limpeza dos terminais de ônibus. Sobre o quesito segurança, a jovem afirmou já ter presenciado caso de furtos dentro dos coletivos. “Foi na linha do São Jorge, por volta das 18h”, lembrou. “Alguns aproveitam que o ônibus está cheio nessa hora”, completou.

Gráfico

Assédio a mulheres é um problema do sistema, segundo usuários 

ASSÉDIO - Mais de dois terços de homens e mulheres entrevistados (68,9%) apontam o assédio a mulheres como um problema no transporte coletivo local. Quando consideradas apenas as respostas das mulheres, o índice sobe para 75,8%. Outro número importante: 41,6% de passageiros e passageiras afirmam conhecer alguma mulher que tenha sido vítima de assédio nos ônibus. O número atinge a marca de 47,8% quando contabilizados apenas os relatos de mulheres.

“Este é um resultado bastante preocupante, levando em conta que dados sobre o tema tendem a ser subestimados, uma vez que nem todas as vítimas de assédio compartilham com outras pessoas seu sofrimento, e uma proporção ainda menor realiza denúncias”, diz estudo do Observatório.

“Os números mostram uma realidade alarmante, que impede o ir e vir da mulher com segurança, na cidade”, diz Cláudia Regonha Suster, psicóloga, integrante do Coletivo Promotoras Legais Populares e do Projeto Mobcidades. Ela enfatiza a importância de uma campanha, em caráter permanente contra o assédio no transporte público em locais de alta visibilidade, como propõem os coletivos participantes do Projeto MobCidades. Claudia antecipa que já há iniciativas nesse sentido sendo construídas e que devem ser conhecidas brevemente.

A Prefeitura ressaltou ainda, em nota, que realiza campanha contra assédio no transporte público de Piracicaba. A iniciativa é feita em parceria com a concessionária Via Ágil. “Motoristas estão sendo treinados para que, ao observarem alguma conduta suspeita, parem o veículo próximo a um posto ou viatura policial”, afirma.

PROPOSTAS -  Com base nas questões identificadas pelo estudo e após debates com as entidades participantes do Projeto MobCidades (Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, Promotoras Legais e Populares, Associação de Moradores do Distrito de Tupi e Observatório Social de Piracicaba), o Observatório Cidadão reuniu uma série de propostas para o serviço de transporte coletivo de Piracicaba e para o Plano Municipal de Mobilidade Urbana:

As propostas incluem questões referentes a adoção de políticas de transparência, planejamento e aumento das possibilidades de utilização do serviço, melhorias na acessibilidade da frota e integração intermodal.

Dois ônibus parados e passageiros andando no TCI

Movimentação de passageiros no Terminal Central de Integração (TCI)

O QUE DIZ A PREFEITURA - Procurada pelo Observatório Cidadão, a Prefeitura de Piracicaba afirmou que, nos horários com grande demanda, o sistema opera com a maior frequência e capacidade total. “Em médias e grandes cidades, a lotação é maior que o normal nas entradas e saídas do trabalho, gerando reclamações. São necessárias políticas públicas em nível federal para que possam diminuir os valores das tarifas; há muita gratuidade em que o poder público municipal não consegue subsidiar”, disse o Secretário de Trânsito de Transportes do município, Jorge Akira, em nota enviada.

 

“O Fórum Nacional de Secretários de Mobilidade, juntamente com a Frente Nacional de Prefeitos, transmitirá sugestões para adequações da política de transporte do país, e com isso, melhorar as tarifas do transporte público”, afirmou Akira no documento. A Prefeitura ressalta que todos os ônibus da frota do sistema municipal possuem elevadores.

A administração municipal afirmou que o Terminal Vila Sonia foi totalmente reconstruído, com ênfase na acessibilidade e que o Terminal Cecap está em fase final de reforma. No Terminal Pauliceia, foram iniciadas obras de reconstrução.

“Em novembro, será lançado o edital para reconstrução do Terminal Piracicamirim. Há projetos para reforma do Terminal Central em elaboração. Todos os terminais serão contemplados com paraciclos, sanitário família, sanitário adaptado para ostomizados, câmeras de monitoramento, acessibilidade. Novas coberturas estão sendo instaladas, bem como pontos com travessia de pedestres semaforizados, e rampas para acessibilidade. Os últimos governos de Piracicaba têm feito investimentos para melhoria acessibilidade e conforto para a população”, afirmou o secretário Jorge Akira.

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